Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Faculdade de Letras & Artes – Fala
Campus de Assú
Departamento de Letras - DLE
Antônio Rogério Peixôto Neto
“Esmola”: Uma análise Lítero-Musical
A Música “Esmola” de Skank
1. Introdução
A |
análise de qualquer discurso passa pela percepção de que existem fatores importantes e influenciadores que permeiam os seus objetivos, dentre os quais, a ideologia e o ethos muitas vezes escamoteados através de um ato de linguagem, seja no discurso oral ou escrito, ou no discurso lítero-musical, no caso do presente trabalho. Na verdade é que em qualquer tipo de discurso sempre existe uma forma de imprimir no ouvinte uma ação que visa modificar ou influenciar no comportamento das pessoas.
Neste sentido, tencionamos nesse artigo fazermos uma breve análise lítero-musical da canção “esmola” do grupo musical Skank. Para isso, nos fundamentamos nos estudos de Saraiva (2005), Bezerra (2005) e Jaguaribe (2005), razão pela qual acreditamos na veracidade de seus textos. Nosso principal objetivo é de investigar naquela canção qual foi o ethos que os autores da letra da música usaram para chamar a atenção do público ouvinte, além de observamos a questão ideológica e as marcas lingüísticas regionais.
Essa análise se justifica quando entendemos que algumas pessoas costumam fazer o uso do discurso lítero-musical e não param para analisar a parte literária, ou seja, a letra da canção, quando para eles o importante é apenas o ritmo e a melodia. Neste sentido, para um melhor entendimento, dividimos o artigo em quatro partes: a análise sobre a ideologia dos autores, a análise do ethos da letra e a melodia na canção, além da conclusão.
2. Ideologia
A categoria ideologia é um termo muito abrangente e, por isso mesmo, polêmico entre os autores. Mas mesmo correndo o risco de reducionismos, podemos dizer com Althusser (1970) que a ideologia seria a relação imaginária de indivíduos com suas reais condições de existência. Para Althusser, esse entendimento é razoável na medida em que está de acordo com os aparelhos ideológicos de estados e o nosso objetivo é correlato com Althusser na forma em que entendemos que é preciso mostrar para instituições tais como o próprio Estado, a família, a igreja, a escolas, sindicatos. Na canção “esmola” da banda Skank, a ideologia dos autores é a de denunciar ao mundo a fome e a miséria no Brasil. Para isso eles usaram o discurso lítero-musical, misturando ritmo, letra e melodia.
3. Ethos
O ethos é a forma e o caráter de como o orador usa seu discurso a fim de revelar-se sincero e simpático com vistas a gerar confiança no seu público, o qual também é possuidor de um caráter. Segundo Maingueneau (apud Jaguaribe, 2005)[1], “o ethos não deve ser entendido como o que os oradores dizem explicitamente sobre si próprios, mas a personalidade que mostram através de sua maneira de exprimir”. Assim buscamos entender o tipo de ethos usado na canção “esmola” da banda Skank que será relevante para a nossa análise.
Com base na discussão acima sobre o ethos, é possível inferir que os autores da canção em análise fazem uso de um ethos sindicalista. O ethos implícito na música visa chocar o ouvinte e tem a intenção de alertar os governantes a enxergarem a real situação do Brasil, pois a letra da música faz entender que este atravessa sérios problemas de miséria e fome. Podemos ver isso na 2ª estrofe da canção a qual teve suas linhas enumeradas da seguinte forma.
1ª “Uma esmola pro desempregado”,
2ª “Uma esmolinha pro preto, pobre, doente”.
3ª “Uma esmola pro que resta do Brasil”,
4ª “Pro mendigo, pro indigente”,
Portanto, o ethos que os autores usaram na 2ª estrofe foi o ethos de um possível sindicalista revoltado com a situação de fome e miséria, pela qual está passando o Brasil. Se olharmos para a terceira estrofe, mais precisamente para a 2ª linha a qual traz a seguinte “O ano é mil novecentos e noventa e tal”, podemos inferir que os autores denunciam que os anos se passam e nada é feito para erradicar a fome e a miséria no Brasil. No texto da canção em análise, também vemos marcas lingüísticas regionais as quais são relevantes procuramos entendê-las, pois vivemos em país marcado por elas.
A discussão sobre o plurilinguismo acima é importante para o nosso trabalho porque na canção que estamos analisando é possível encontrar indícios de plurilinguismo. Vejamos a 2ª linha da 1ª estrofe onde podemos ler a frase: “Uma esmola meu por caridade”. O vocábulo “meu” é uma marca lingüística (gíria) típica da região Sul e Sudeste do Brasil, região de Minas Gerais onde moram os autores da canção. Mais adiante na 3ª linha da mesma estrofe, lemos: “uma esmola pro ceguinho, pro menino”. Neste verso, encontramos a preposição “pro”, a qual nos remete para um tipo de variação lingüística bem comum ao nosso cotidiano.
4. Melodia
De acordo com Costa (2001), o discurso lítero-musical se caracteriza por uma mistura de linguagem verbal e musical (ritmo e melodia). Para entendermos um pouco mais sobre esse gênero híbrido, vale a pena discorrer brevemente sobre ritmo e melodia à luz das explicações de Tatit (1997), o qual é citado no texto de Saraiva (2005).
(...) “ Melodia lenta denuncia um compromisso com a continuidade”, (...) “ a alternância tonal no campo da tessitura se destaca tanto quanto maior for o investimento na duração”. (...) “Melodia veloz, decorre uma maior proximidade dos elementos musicais”, (...) não há investimentos, mas na transição, na passagem de uma etapa a outra (p. 163).
Com base nessas explicações dadas pelos autores citados no parágrafo anterior, analisamos a canção “esmola” como uma obra bem construída, pois gera uma sensação agradável em quem a ouve.
O ritmo e a melodia da canção são acelerados, pois se trata de uma banda de Rock, além disso, esse ritmo musical é muito agradável, especialmente para o publico jovem que gosta de ter liberdade de dançar solto, cantar e encontrar uma maneira de expressar seus sentimentos.
5. Considerações Finais
A nossa preocupação inicial neste trabalho foi a da investigação da ideologia, do tipo de ethos, do plurilinguismo e da melodia. A ideologia da canção foi à forma dos autores da canção “esmola” da banda Skank denunciar ao mundo a situação do Brasil, O ethos de um possível sindicalista foi à forma de persuadir ou chocar público ouvinte e chamar a atenção dos governantes para a real situação de fome e miséria que o Brasil atravessa. O plurilinguismo foi um ponto analisado no discurso lítero-musical, muito importante para o nosso conhecimento, pois vivemos em país plurilinguista, a melodia foi o essencial para que imaginássemos a hegemonia do discurso. A partir desses objetivos, analisamos a canção “esmola” da banda Skank e podemos observar o quanto é rico o discurso lítero-musical, principalmente no contexto social da música
E para concluir, tencionamos estruturar um possível estudo de um livro sobre todas as analises feitas pelos alunos do Curso de Letras do 6º período, com a orientação do professor Júlio de Araújo. Pois foi uma experiência muito valiosa para o grupo o qual analisou o discurso lítero-musical. Agradecemos ao leitor o enriquecimento que fizer destas idéias em seus trabalhos.
Referências
Saraiva, j. a. b. Como analisar uma canção popular. In. Costa, n. b. (Org.) Práticas discursivas: Exercícios analíticos. Campinas – SP. Pontes. 2005, pp.157-170.
Bezerra, l. c. m. O Nordeste falando para o mundo: Plurilinguismo em canções de Lenine, Chico César e Zeca Baleiro. In. Costa, n. b. (Org.) Práticas discursivas: Exercícios analíticos. Campinas – SP. Pontes. 2005, pp. 171-184.
Jaguaribe, v. m. f. O desvelamento da enunciação em cinco poemas de amor. In. Costa, n. b. (Org.) Práticas discursivas: Exercícios analíticos. Campinas – SP. Pontes. 2005, pp. 199-213.
ANEXO
Música: Esmola
Produzido por Skank e Liminha
Skank – ao vivo
Gravado ao vivo
1ª Uma esmola pelo amor de Deus
2ª Uma esmola meu por caridade
3ª Uma esmola pro ceguinho, pro menino,
4ª Em toda esquina tem gente só pedindo.
1ª Uma esmola pro desempregado,
2ª Uma esmolinha pro preto, pobre, doente.
3ª Uma esmola pro que resta do Brasil,
4ª Pro mendigo, pro indigente.
1ª Ele que pede, eu que dou, ele só pede,
2ª O ano é mil novecentos e noventa e tal,
3ª Eu to cansado de dar esmola,
4ª Qualquer lugar que eu passe é isso agora
1ª Não vai não, não vai não – 7x.
2ª No hospital, no restaurante, no sinal,
3ª No Morubim, no Mário Filho, no
Mineirão,
4ª Menino me vê e começa logo a pedir,
me dá, me dá, me dá um dinheiro ai!
[1]. Devido à importância do texto para o nosso objetivo nessa pesquisa buscamos fundamentos no conceito de Maingueneau citado por JAGUARIBE (2005, p. 205) in Práticas discursivas Exercícios analíticos.